Mesas gesso – Destaque Outubro 2021

DESTAQUE OUTUBRO 2021

Mesas de gesso (par)

Inglaterra, c.1715

Castanho (?), gesso, prata

A.77 x L.92,5 x P.54

 

No corredor de entrada da antiga residência, Medeiros e Almeida colocou um par de messas de gesso inglesas, adquiridas à amiga inglesa Dorothy Hart, viúva de um conhecido colecionador, Geoffrey Hart.

 

Em Inglaterra, o gosto pelo mobiliário entalhado e dourado de feição barroca veio substituir ainda no final do século XVII, o mobiliário pintado em voga nos reinados de Jaime I e de Maria II. Mesas de apoio, molduras de espelhos, pedestais, tremós, apliques de luminária, espelhos de chaminé, passam a ser entalhados e dourados, tal como cabeceiras e pés de camas e cadeiras. Muitos destes objectos foram concebidos em função da arquitectura das casas, nas quais o espaço entre portas e janelas era aproveitado para colocar espelhos sobre mesas como forma multiplicar a luz.

Os desenhadores passam então a ter um papel reconhecido na criação do mobiliário executado por marceneiros, entalhadores e douradores com funções cada vez mais especializadas. Tal como em França, as diferentes actividades obedeciam a regulamentação e separação, não se cruzando, sendo excepcional aqueles que exerciam mais do que uma função. De facto, as peças eram concebidas pelos entalhadores passando depois para as mãos dos douradores e posteriormente dos marceneiros.

 

As madeiras eleitas eram as macias como o limoeiro e a pereira uma vez que, se adaptavam melhor à execução do entalhamento, posteriormente acabado (segundo diversas técnicas) a dourado ou prateado.

 

As mesas da coleção da Casa-Museu (gesso tables) são totalmente revestidas por uma pasta de cré e cola animal que era aplicada sobre a superfície de madeira e que depois era escavada criando um motivo em relevo, sendo o fundo estampado ou puncionado de modo a dar-lhe uma aparência uniforme, baça e contrastante com o brilho do relevo. A folha de ouro ou de prata só então era colocada sobre a superfície húmida e depois polida com ágata ou com dente de cão.

 

Designada na atualidade por “gesso table” ou “gesso furniture” a técnica de revestimento decorativo já existente na Idade Média, embora não com esta denominação, foi retomada em finais do século XVII num revivalismo que durou de cerca de1690 a cerca de 1735 altura em que o seu uso começou a declinar, quando o gosto se começa a alterar sendo substituído por entalhamentos volumosos em madeira e por tampos em mármore. O seu sucesso deve-se também em parte, às possibilidades decorativas que o uso de gesso permitia e que iam para além das oferecidas pelo simples entalhe da madeira. Gravar motivos minuciosos sobre uma pasta húmida era apesar de tudo, mais simples que sobre madeira, não permitindo esta inclusive, decorações de pontilhados ou de gravados.

A pasta de cré possibilitava a execução de um tipo de decoração recortada na qual se retiravam camadas do fundo de forma a criar um relevo com o padrão decorativo pretendido, trabalho que a madeira entalhada não proporcionava tendo sido por isso, usada com o propósito específico de criar este tipo de decoração, não sendo assim, uma técnica substituta da madeira entalhada, mas sim, uma alternativa com um objectivo ornamental distinto.

 

Sendo peças de custo elevado, apenas acessíveis às elites, era comum ver esculpido nos tampos o monograma do seu proprietário. Em simultâneo, o gosto vigente era de influência francesa com recurso a grotescos e a enrolamentos de motivos simétricos e a lambrequins com borlas e cabeças femininas ou de grotescos dentro do gosto do final do período francês de Luis XIV.

De variadas proveniências, existem várias as mesas na colecção que apresentam o mesmo tipo de decoração mas, não são iguais, das quais destacamos um par prateado.

As peças decoradas a prata embora de execução mais económica, são mais valorizadas pela sua raridade. Produzidas sobretudo no período entre os reinados de Carlos II e de William e Mary, particularmente no último terço do século XVII. Trempes, mesas, molduras de espelhos são alguns dos exemplos sobreviventes. Em geral, a sua superfície está coberta por finíssimas fissuras, que são bem mais notórias na prata do que no ouro.

Arabescos, enrolamentos, gavinhas com flores, estendem-se simetricamente a partir de um motivo central, ao longo do tampo e pelas pernas, terminando nos pés em folhas de acanto, em garras ou em pé de cabra. O par prateado apresenta ainda ao centro, um monograma (H W?) dentro de cartela até agora não identificado.

 

Proveniência:

O par de mesas pertenceu a Tring Park House, mansão construída pelo rei Carlos II de Inglaterra (1630-1685) para Nell Gwyn, sua amante, depois pertença de Henry Guy (em 1710), político e amigo de Carlos II. Propriedade da família Rothschild desde 1872, foi alugada (e posteriormente vendida) para escola de artes performativas em 1945, função que mantém até à actualidade.

Em 1929 Sir William Plender (1861-1945) (51, Kensington Court), Londres comprou as mesas para a sua coleção, tendo sido anunciadas à venda na revista “The Connoisseur” em Junho de 1942. Foram então adquiridas ao Barão Plender em 1942, por £3.500 pelo colecionador Geoffrey Hart (Whych Cross Place, Sussex), Inglaterra.

Em 1958 a viúva de G. Hart, Dorothy – muito amiga do casal Medeiros e Almeida –  publica a sua venda na revista “Country Life” sendo adquiridas por Medeiros e Almeida em Março de 1958, por £4.500.

 

 

Cristina Carvalho

Casa-Museu Medeiros e Almeida

 

NOTA: A investigação é um trabalho permanentemente em curso. Caso tenha alguma informação ou queira colocar alguma questão a propósito deste texto, por favor contacte-nos através do correio eletrónico: info@casa-museumedeirosealmeida.pt

 

Bibliografia

MULLINER, Herbert Hall – The Decorative Arts in England, 1660-1780. London, BT Batsford, [s/d]

SYMONDS, R. W. – Furniture Making in the 17th and 18th century England. London, The Connoisseur, 1955

Autor

Data

C.1715

Local, País

Inglaterra

Materiais

Castanho (?), gesso, prata

Dimensões

Alt.77 x Larg.92,5 x Prof.54 cm

Category
Destaque