“Brilhantes de primeira água”. Diamantes na coleção do Museu Medeiros e Almeida – DESTAQUE JUNHO 2023

DESTAQUE JUNHO 2023

 

“Brilhantes de primeira água”

Diamantes na coleção do Museu Medeiros e Almeida

 

A coleção do Museu Medeiros e Almeida integra uma variedade de materiais gemológicos. Propomos, no presente estudo, uma análise dos diamantes que ornamentam, e muitas vezes assumem o protagonismo, nas peças do núcleo de joalharia deste acervo.

 

 

Desafios na identificação de materiais gemológicos na coleção do Museu Medeiros e Almeida

 

“Gema”, que advém do latim gemma (pedra preciosa), define-se como um material que pela sua beleza, raridade e durabilidade é adequado à sua aplicação em objetos decorativos. Os materiais gemológicos abrangem uma grande diversidade de substâncias, orgânicas e inorgânicas, naturais e sintéticas – do marfim, madrepérola e tartaruga, ao diamante, esmeralda ou quartzo, até aos vidros e pedras sintéticas, para referir apenas alguns.

Estes materiais encontram-se representados na coleção do museu, não apenas no seu núcleo de ourivesaria, mas também nos de escultura, mobiliário, relojoaria, leques, armas, instrumentos musicais e científicos, entre outros. No entanto, e como é o caso de muitas coleções museológicas, muitos destes materiais gemológicos nunca foram classificados por um perito da especialidade e podem encontrar-se incorretamente identificados. Existe uma necessidade de identificação especializada, que pode ser dispendiosa, e o museu conta pontualmente com a colaboração de especialistas externos para colmatar esta lacuna.

As limitações de recursos e de conhecimentos gemológicos comprometem inevitavelmente a classificação e diferenciação precisa de algumas das pedras apresentadas no presente estudo. Contudo, reconhecemos a relevância de uma primeira abordagem, necessariamente e em primeiro lugar de caráter histórico-artístico, sustentada pelo estudo das mais recentes e significativas aplicações da gemologia ao campo da ourivesaria em Portugal, à nossa própria coleção. A identificação destes materiais gemológicos requer um estudo aprofundado e multidisciplinar, envolvendo conhecimentos especializados e o uso dos instrumentos apropriados.

 

 

Técnicas de identificação e análise de materiais gemológicos

 

A identificação de materiais gemológicos no campo dos objetos históricos e/ou artísticos apresenta desafios particulares, que difere essencialmente de outros ramos da geologia por exigir a utilização de métodos não destrutivos, pela impossibilidade da desmontagem e limpeza adequada das peças em estudo, e pela dificuldade de manuseamento ou de acessibilidade a ângulos de observação de pedras, entre outros [1].

O primeiro método de identificação de materiais gemológicos consiste na sua observação visual, com ou sem ampliação. Assim se podem determinar algumas das suas caraterísticas mais evidentes, como a cor, a transparência, o brilho, a qualidade de lapidação e polimento, a condição da sua superfície, entre outras. No caso das pedras transparentes, a sua observação sob ampliação possibilita a observação do seu interior e o reconhecimento de inclusões, isto é, as suas características internas. As inclusões podem ajudar a determinar a identidade e a origem geográfica de uma gema, se esta é natural ou sintética, ou a existência de alguns tratamentos [2].

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Inclusões de diamantes do núcleo de joias do Museu Medeiros e Almeida, sob ampliação de 60x (microlente): Alfinete, FMA 863; Brinco, FMA 934; Brinco, FMA 910.

Os métodos utilizados para a realização deste estudo subordinaram-se às caraterísticas dos materiais gemológicos abordados, da natureza da sua inserção nas peças da coleção (cravações fechadas ou abertas), e dos recursos disponíveis. Deste modo, foram essencialmente empregues a observação visual, a observação com ampliação de lupa (10x) e a fotografia com microlente (imagem em modo microscópico, com ampliação até 60x), a observação de fluorescência à radiação ultravioleta e a aferição das suas propriedades térmicas [3].

A fluorescência ao ultravioleta carateriza os fenómenos da emissão de luz de alguns diamantes, quando expostos à radiação UV de onda longa. Nos diamantes naturais, o azul é a cor de fluorescência mais comum, embora outras cores possam ocorrer [4].

Os materiais gemológicos possuem propriedades térmicas específicas, o que possibilita a sua identificação por meio da sua aferição. Apesar de não ser aconselhável depender de instrumentos de medição de propriedades térmicas como o único teste para determinar a identidade de uma pedra, consideramos que esta metodologia é de extrema utilidade à gemologia aplicada à joalharia. Trata-se de uma análise não destrutiva, que não requer a desmontagem de uma peça e, com os conhecimentos necessários e uma correta utilização, com o potencial de apresentar diagnósticos imediatos e conclusivos, sobretudo no caso dos diamantes, dos seus substitutos e de outras pedras incolores.

 

 

Diamante

 

A singularidade do diamante advém de uma combinação única de três fatores que o caraterizam: composição química, estrutura cristalina e condições de formação.

O diamante é o único material gemológico composto essencialmente por um único elemento, o carbono.

O seu sistema cristalográfico cúbico determina que os seus átomos de carbono se organizam numa rede cristalina regular. O octaedro é o hábito cristalográfico mais comum do diamante, embora também seja frequente encontrar-se em configurações como o cubo, o dodecaedro e outras.

As condições em que um mineral se forma condicionam igualmente as suas propriedades. O diamante é formado a elevadas temperaturas e pressões, que apenas ocorrem em determinadas zonas do planeta, a partir de cerca de 150 e até 700 quilómetros de profundidade [5].

 

Estes três fatores conferem-lhe propriedades físicas únicas, como a dureza mais elevada entre todos os materiais de ocorrência natural (classificada como 10 na escala de Mohs [6]), o que faz com que não possa ser riscado por mais nenhum material de origem natural, exceto o próprio diamante.

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Diamante em bruto de hábito cristalográfico octaédrico. “Diamante”, MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, https://acervo.mmgerdau.org.br/teste-4/diamante-11/.

Historicamente, esta característica fez com que fosse muito utilizado como material abrasivo, para polimento ou gravação de outros materiais de menor dureza. Contudo, a sua perfeição de clivagem constitui a característica que primeiramente permitiu a sua lapidação.

 

Outras características que fazem com que o diamante seja visualmente atraente resultam das suas propriedades óticas: o seu elevadíssimo brilho [7], mas também o seu elevado fogo [8] e cintilação [9]. A qualidade destas propriedades óticas depende em grande parte do tamanho, cor, pureza, talhe e polimento da pedra.

 

Encontram-se atualmente estabelecidas como as principais características de valorização de um diamante o seu peso, cor, pureza e talhe, conhecidos vulgarmente como os “4 C’s” (caratcolourclarity e cut[10].

O quilate (carat) é a unidade de medida adotada internacionalmente para expressar o peso de pedras preciosas, representando 0,2 gramas.

No que diz respeito à cor, os diamantes são usualmente classificados consoante a sua proximidade do incolor (à exceção dos diamantes de cor fancy). A escala de classificação de cores mais utilizada é a proposta pelo GIA – Gemological Institute of America, de D a Z – em que D representa a classificação incolor, aumentando o grau de cor até à letra Z.

Como já referimos, os diamantes possuem características internas, conhecidas como inclusões, e irregularidades de superfície (manchas, conhecidas, em inglês, como blemiches). A pureza de uma pedra é classificada consoante a visibilidade, à vista desarmada ou sob ampliação de 10x, destas características, através de uma escala com onze graus: FlawlessInternally Flawless, dois graus de Very Very Slightly Included (VVS1 e VVS2), dois graus de Very Slightly Included (VS1 e VS2), dois graus de Slightly Included (SI1 e SI2) e três graus de Included (I1, I2 e I3).

Se as suas proporções, simetria e polimento forem adequados, a luz incidente sobre um diamante interage eficientemente, resultando num elevado brilho, fogo e cintilação. É, assim, através de uma lapidação bem executada, que se consegue maximizar o potencial ótico de um diamante.

 

Não se conhecem ao certo as primeiras utilizações do diamante, existindo referências pontuais durante a Antiguidade [11] ou no Antigo Testamento [12].  Contudo, os termos utilizados nestas fontes (nomeadamente, o grego “adamas” e o hebraico “yahalom”) suscitam dúvidas quanto à sua correspondência a este material, podendo significar outras pedras incolores.

Até finais do século XIV, o diamante é utilizado em bruto, sobretudo quando ocorre na sua forma octaédrica [13]. É apenas a partir do século XIV que o diamante é utilizado com alguma frequência na joalharia ocidental, proveniente de jazigos na Índia e, embora em menores quantidades, no Bornéu, com o desenvolvimento da tecnologia de lapidação e polimento necessários ao aproveitamento das suas propriedades óticas, surgindo assim os primeiros tipos de talhes.

 

Um destes primeiros estilos de lapidação, o talhe em ponta, segue os contornos de um cristal de diamante em bruto de hábito octaédrico, ou seja, com 8 faces, e representa o passo inicial no processo de aproveitamento das propriedades óticas desta gema. Este tipo de lapidação não se encontra representação nas peças da coleção do Museu Medeiros e Almeida [14].

Durante o século XVI surge e populariza-se o talhe em mesa, semelhante ao talhe em ponta, com um dos vértices do octaedro cortado. Este carateriza-se assim, por possuir 9 a 10 facetas, (5 na coroa e 4 a 5 no pavilhão) [15]. É a faceta quadrada da coroa que resulta deste corte adicional, a “mesa”, que confere a este estilo de lapidação a sua designação.

Talhe em ponta e talhe em mesa

Desenho esquemático das lapidações talhe em ponta e talhe em mesa. “Diamond cut history”, Wikimedia Commons, https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/84/Diamond_cut_history.svg.

O talhe mais comummente utilizado durante o século XVII e até meados do XVIII é conhecido como talhe rosa. Este estilo de lapidação engloba uma grande variedade de contornos e números de facetas, tipicamente com a configuração de uma base plana e uma superfície em cúpula, como a de um cabuchão, mas facetada, geralmente com seis facetas triangulares centrais e um número variável de facetas adicionais entre o topo da cúpula e a base – comummente designados em Portugal como “rosas coroadas”.

 

talhe rosa

Desenhos esquemáticos da lapidação em talhe rosa. “Rose cut”, Antique Jewellery University – Lang Antiques, https://www.langantiques.com/university/rose-cut/.

Um dos exemplos da coleção onde se observa a utilização destes dois últimos estilos de lapidação constitui o pendente coroado em ouro (FMA 876), onde se observam diamantes lapidados em diferentes talhes rosa e em mesa, em cravação fechada.

 

A aparência escura dos diamantes, sobretudo dos de maior dimensão ao centro da peça, é caraterística destes estilos de lapidação e cravação, assim como da qualidade das pedras disponíveis neste período.

Pendente coroado. Portugal, prov. inícios do séc. XVIII. Ouro e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 876.

Esta tipologia de peça é representativa da produção ibérica da transição do século XVII para o XVIII. Contudo, algumas das suas particularidades apontam para uma atribuição portuguesa, mais próxima do inícios de setecentos: a ausência de esmaltes e a profusão e qualidade do lavrado a cinzel do reverso, mais característicos de uma manufatura portuguesa; o seu peso, que nos remete para uma grande disponibilidade de ouro aquando da sua manufatura; a sua complexidade estrutural, compondo-se de três peças (o medalhão central e dois elementos concêntricos) montadas e cavilhadas, com uma cruz no reverso que as unifica, particularidades construtiva e tecnicamente avançadas relativamente à generalidade das peças deste género… são algumas das razões que podem fundamentar estas atribuições.

FMA 876
FMA 876

Pendente coroado (pormenor e reverso). Portugal, prov. inícios do séc. XVIII. Ouro e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 876.

Contudo, a peça da coleção que constitui o melhor exemplo da variedade de configurações que a lapidação em rosa pode apresentar é a grande e importante guarnição de corpete (FMA 873), ou devant de corsage. Trata-se de um minucioso trabalho de fundição e de buril, composto por diversos elementos em prata, prata dourada e cobre, onde se engastam, em cravação fechada, numerosos diamantes em talhe rosa, com um número de facetas muito diversificado (de 3 e 6 facetas a variadas rosas coroadas).

De composição triangular invertida, o desenho desta peça desenvolve-se através de intricados enrolamentos de caráter vegetalista, cujo ponto focal constitui um monograma “AM” – Ave Maria, por vezes também interpretado como Auspice Maria -, sobre a convexidade de uma calota dourada.

Guarnição de corpete. Portugal(?), finais do séc. XVII a inícios do XVIII. Prata, prata dourada, cobre e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 873.

Uma análise do seu reverso revela a sua notável complexidade construtiva, com recurso a escassas soldas e numerosas cavilhas entre os seus componentes. Destaca-se a presença de uma caixa circular, ao centro, onde se enrosca, no anverso, a calota com o monograma mariano – semelhante às caixas dos trémulos, ou tremblants.

Observam-se também orifícios e recortes, semelhantes aos das peças de um puzzle, concebidos decerto como elementos de encaixe numa armação específica, presumivelmente fixa ao corpete de uma imagem devocional [16]. O estudo e desmontagem da caixa circular central estabelece que toda a peça é desenvolvida por forma a receber, soldado ao centro, este elemento, e que este é incontestavelmente de origem, reforçando a sua associação a imagens devocionais, e não a uma utilização de natureza profana [17].

FMA 873 - reverso, desmontagem

Guarnição de corpete (reverso, desmontagem). Portugal(?), finais do séc. XVII a inícios do XVIII. Prata, prata dourada, cobre e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 873.

Esta tipologia de peça é verdadeiramente rara, revestindo-se de um estatuto de elevada importância no contexto da ourivesaria portuguesa.

Apenas se lhe equiparam a guarnição de corpete do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (n.º de inventário 875 Joa), atribuída a manufatura portuguesa de inícios do século XVIII, ligeiramente menor em dimensão e na qual não observamos o acima referido sistema de montagem [18]; ou a guarnição de corpete, em coleção particular e possivelmente proveniente da Casa dos Marqueses de Lavradio [19], que não tivemos oportunidade de observar diretamente e cujo reverso desconhecemos. Estas peças apresentam notáveis semelhanças à da nossa coleção, tanto a nível decorativo como técnico e estrutural, concebendo-se quiçá que poderiam ter a autoria de uma “mesma mão”. Sugerimos ainda, no contexto das coleções portuguesas, como outros exemplos comparativos, as duas peças da coleção da Ourivesaria Gomes (Póvoa de Varzim), um diadema e um peitoral [20], atribuídos à primeira metade do século XVIII.

Outras peças, mais ou menos coevas, que pela sua dimensão, qualidade e complexidade técnica importam mencionar, em ouro com diamantes, atribuídas a uma manufatura ibérica e mais próximas do que habitualmente associamos à joalharia característica do século XVIII (laças, sequilés…), incluem o ornamento de corpete da coleção do Victoria and Albert Museum, em Londres (n.º de inventário 320-1870) (at. Espanha, c. 1700-1720) [21], o da coleção do DIVA Museum, em Antuérpia (n.º de inventário DMK96/1) (at. Península ibérica, c. 1650-1700) [22], ou a “joya de pecho” do Museo Nacional de Artes Decorativas, em Madrid (n.º de inventário CE28757 ) (at. Madrid(?), c. 1680) [23].

Observamos uma tendência de atribuição ao século XVII de peças em que o trabalho do metal se sobreponha ao brilho e colorido das pedras, o que muitas vezes é considerado como a principal característica da joalharia setecentista, assim como a utilização de diamantes em talhe rosa, de aparência escura [24]. Apesar do elevado destaque estético do metal, consideramos que a profusão de diamantes presente nesta peça sugere que o seu período de manufatura seja posterior à descoberta dos diamantes do Brasil. Para além disso, o seu intricado desenho possui poucos pontos de comparação conhecidos. Face à escassez de termos comparativos e à ausência de evidências documentais, assemelha-se presentemente inviável estabelecer uma atribuição geográfica e temporal conclusiva para a peça em questão. Nesse sentido, serão necessárias investigações adicionais para uma melhor compreensão e contextualização deste objeto do âmbito da joalharia nas coleções portuguesas.

O meio-adereço constituído por colar e par de brincos, com estojo, em ouro e prata cravejada de diamantes (FMA 856-858), apresenta igualmente lapidação em talhe rosa de variadas dimensões, contornos e números de facetas.

Meio-adereço constituído por colar e par de brincos, com estojo. Ouro, prata e diamantes. Portugal, segunda metade do séc. XVIII. Museu Medeiros e Almeida, FMA 856-858.

O colar possui uma corrente formada por um alternado de flores e laços, destacando-se-lhe uma laça central de intricada composição vegetalista. Denota-se um desenho muito estilizado e assimétrico, exibindo uma profusão de folhagens, flores e fitas esvoaçantes que representa uma certa desconstrução das tradicionais “laças” que a precederam, das quais quase apenas mantém o contorno exterior [25]. No par de brincos, o formato do laço desapareceu já por completo, substituído por dois elementos articulados de caráter estritamente vegetalista, com fitas em ouro que se entrelaçam entre estes.

Observa-se que a pedra do pingente da laça central do colar aparenta ser menor que o espaço que a sua cravação lhe designou, o que sugere que poderá ter sido substituída.

Este conjunto apresenta outras modificações bastante evidentes: uma chapa em prata no reverso do pendente, que presumivelmente permitiria a sua utilização como alfinete; os fechos dos brincos, grosseiramente alterados para espigões revirados; e o colar possui, numa das extremidades, uma argola de origem (que lhe permitiria ser segura ao pescoço com uma fita de cetim ou veludo), terminando abruptamente na ponta oposta, à qual se adicionou uma corrente com fecho com marca do ourives do Porto, Guilherme Pinto da Silva, ou dos seus sucessores (1891-1968) [26]. Estas peças apresentam-se também remarcadas com “cabeça de velho”, porventura por altura destas modificações, tendo sido adquiridas por Medeiros e Almeida ao antiquário Francisco Marques da Silva, em 1978, nestas condições.

O estojo, de origem, com o exterior em couro encarnado com gravados a ouro, apresenta um perímetro que sugere, ou fornece uma antevisão, da expressividade da joia que contém e, no seu interior, um rebaixamento da sua base, correspondente ao formato das peças do meio-adereço. Note-se, na área reservada aos brincos, o alargamento posterior do encaixe dos fechos, de forma a acomodar as suprarreferidas alterações.

A descoberta de grandes quantidades de diamantes no interior do Brasil, na década de 1720, veio impulsionar significantemente a indústria joalheira em Portugal.

Dá-se então o real aproveitamento do potencial do brilho, fogo e cintilação do diamante, advindo do surgimento do talhe brilhante, em finais do século XVII. Este é caraterizado por possuir uma coroa e um pavilhão, ou seja, uma porção superior com uma faceta plana, canonicamente octogonal, rodeada por um conjunto de facetas triangulares e/ou em losango; e uma inferior, o pavilhão, com facetas, podendo possuir, ou não uma no seu vértice, a culatra. Entre a coroa e o pavilhão encontra-se a cintura do diamante, onde geralmente este recebe a sua cravação.

As primeiras gerações de talhe brilhante designam-se, em português, como talhe brilhante antigo, por vezes também apelidado como “talhe antigo de brilhante”. Esta denominação abrange, na bibliografia internacional, dois estilos de talhes distintos: o old mine cut, referente ao primeiro talhe brilhante, reconhecível pelos seus contornos e proporções irregulares (seguindo os do hábito cristalográfico da pedra), facetas assimétricas, culatra de grandes dimensões e uma cintura não polida; e o old European cut, bastante posterior, de finais do século XIX, que, possuindo ainda uma pequena faceta na culatra, uma coroa alta e uma mesa pequena, é já mais circular e mais próximo do talhe brilhante moderno.

 

Talhe brilhante antigo

Desenho esquemático das lapidações em brilhante antigo: old mine cut e old European cut. “Old mine cut”, GIA – Gemological Institute of America Inc. https://4cs.gia.edu/en-us/blog/old-mine-cut-diamond/.

 

Algumas das pedras mais pequenas apresentam um número de facetas muito inferior ao habitual, designando-se como brilhante simplificado [27].

O meio adereço composto por alfinete e par de brincos (FMA 861-864) apresenta diamantes em talhe brilhante antigo, (já sem talhes rosa). O diamante central do alfinete (FMA 863) apresenta uma acentuada fluorescência azul à UV e uma grande inclusão mineral, visível à vista desarmada, possivelmente de olivina.

Esta peça sofreu também algumas alterações à sua conformação original: o alfinete constituiria certamente um pendente ou passadeira, e terá recebido no reverso um espigão em ouro, com fecho em caracol; os brincos apresentam fechos, também posteriores, num ouro de toque e coloração diferente, mas com uma configuração (de inserir por detrás da orelha) dentro do espírito dos de origem. O desenho da peça, os elementos do reverso em ouro e as cravações sem cavilhas indicam uma datação tardia para esta tipologia de meio-adereço, que colocamos na primeira metade do século XIX.

Meio adereço constituído por alfinete e par de brincos, com estojo. Portugal, primeira metade do século XIX. Prata, ouro e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 861-864.

Apesar de adquiridos a S. J. Phillips, antiquários de joalharia de renome, em 1945 como um conjunto de cerca de 1780, consideramos que o alfinete e par de brincos de diamantes de talhe brilhante antigo (FMA 909-913) não constituem um meio adereço, mas antes, a combinação de duas peças coevas, já do século XIX.

Grande alfinete (desmontável em quatro mais pequenos) e par de brincos. Poss. Inglaterra, primeira metade do séc. XIX. Prata, ouro e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 909-913.

A análise do seu reverso e a desmontagem do alfinete revelam a elegância da cravação aberta destas peças, numa técnica que os joalheiros designam por “caseado” [28], com recurso a muito pouco metal. O grande alfinete, em forma de um arranjo floral, desmonta-se, formando quatro alfinetes distintos, com dois ganchos adicionais. O alfinete em flor estremece ligeiramente na ligação à peça que constitui o seu caule, numa espiral de volta e meia em ouro. A inclusão deste elemento en tremblant, a utilização do ouro e da prata e os fechos dos brincos, de origem e em rosca, constituem características representativas da joalharia do século XIX.

Um dos brincos (FMA 910) apresenta, na pedra central da peça do fecho, uma curiosa inclusão cristalina, como um “diamante dentro do diamante” [29].

Da segunda metade do século XIX (possivelmente cerca de 1880 [30]), o par de brincos de diamantes (FMA 934-935),  em talhe brilhante antigo apresenta a mesma delicadeza de “caseado” do exemplo anterior e será provavelmente também de manufatura inglesa.

O diamante de maiores dimensões do pendente de um dos brincos (FMA 934) apresenta uma inclusão, possivelmente uma massa de cristais com grafite [31], que, no reverso da peça, apresenta o curioso efeito apelidado como “sala de espelhos”, ou seja, surge refletida em várias facetas do pavilhão da pedra.

Par de brincos. Poss. Inglaterra, segunda metade do séc. XIX. Prata, ouro e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 934-935.

Da segunda metade do século XIX, integram a coleção um colar e um par de brincos (FMA 922-925), cujo pendente, destacável, faz também de alfinete, que constitui, não um meio adereço, mas antes duas peças de joalharia de origens diferentes, conjugadas, remarcadas com “cabeça de velho” e apresentadas num estojo, assim adquiridas nos anos 50 do século XX. Observam-se, assim, dissemelhanças de desenho entre as duas peças, assim como o estilo de cravação, que é fechada no par de brincos e aberta no colar/pendente/alfinete.

Na viragem do século, a utilização de platina, mais dúctil e leve que o ouro e a prata, permitiu a criação de joias extremamente delicadas e pormenorizadas, dando-se preferência a motivos vegetalistas e florais, laços, festões e grinaldas cobertos de diamantes, em cravações finíssimas, quase invisíveis. O colar Belle Époque da coleção (FMA 7893) constitui um bom exemplo desta produção.

Originalmente concebido como um colar com um pendente/alfinete, o seu laço central, desenhado com leveza e requinte, apresenta, no reverso, duas pequenas argolas para ser utilizado independentemente, como pendente para outro fio; e também roscas de parafuso, para poder ser adaptado como alfinete – cujo espigão se encontra hoje em falta, mas cujos contornos permanecem marcados ao centro do interior do estojo.

Não se conhecendo peças em platina produzidas em Portugal até cerca de 1920 [32], esta será provavelmente de fabrico francês, importada pela Leitão & Irmão – o que, à época, não seria invulgar – e mandada gravar, no estojo, com o nome da proprietária e a data da aquisição: “Amélia de Moraes / 12-MAIO-1909”.

Atente-se a semelhança de desenho e estrutura desta peça com os do colar em platina e diamantes da coleção do DIVA Museum (n.º de inventário DMK05/2), produzido em Paris entre 1900 e 1910 pela reputada casa Lacloche Frères [33]. O estojo desta é idêntico – embora em couro encarnado e gravado simplesmente com uma cercadura dourada -, apresentando, no seu interior, o mesmo desenho em depressão para o encaixe do colar, na zona do fecho. Contudo, gravado ao centro da seda que forra o interior da tampa da caixa da nossa peça lê-se, não o nome da marca parisiense, mas antes “LEITÃO & IRMÃO / Joalheiros da Corôa / Lisboa Porto”.

Colar Belle Époque, com estojo. França, c. 1900-1909. Platina e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 7893 e FMA 8678.

A coleção inclui uma outra peça francesa em platina da primeira metade do século XX, um anel (FMA 7912) que segue os padrões estilísticos próprios do Art Déco, sobretudo no monocromatismo e na geometrização de formas, provavelmente datado de cerca de 1920-40. Este “toi et moi” – designação francesa que se refere a um estilo de anel geralmente associado a noivados, com duas pedras ao centro, lado a lado – apresenta dois diamantes em talhe brilhante em cochim, em cravação de virola em canal, e quatro diamantes em baguette, mais pequenos, de cada lado, em cravação invisível. Esta peça encontra-se marcada com a marca francesa “tête de chien” sem perímetro (1913 a 1994), para platina de 950 milésimas.

Anel “toi et moi” Art Déco. França, c. 1920-40. Platina e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 7912.

Uma outra peça da coleção, uma pulseira em platina e diamantes com estojo de origem (FMA 7886), provavelmente mais tardia, apresenta a marca de uma das mais prestigiadas casas joalheiras até aos dias de hoje, fundada em Paris em 1858 – “Boucheron Paris” [34]. Conhecida pela sua colaboração com alguns dos melhores mestres joalheiros do seu tempo, esta peça apresenta também a marca do ourives que a produziu, até à data não identificada.

Pulseira, em estojo. Boucheron. Paris (França), c. 1940-60. Platina e diamantes. Museu Medeiros e Almeida, FMA 7886.

Duas peças de diamantes que importam ainda referir constituem os dois grandes alfinetes de caráter revivalista, portugueses e produzidos em meados do século XX, à maneira de meados a finais do século XIX.

O primeiro (FMA 874), em ouro e prata cravejada de diamantes lapidados em talhe brilhante antigo, com pérolas de cultura akoya (fixas com espigões, sem calota, como seria de esperar numa peça de época), com uma flor central, en tremblant, desenvolvendo-se, em cacho, através de duas porções inferiores removíveis.

Alfinete revivalista, com estojo. Atribuível a Camilo Almeida Graça (at. 1916-1972). Lisboa (Portugal), meados do século XX. Ouro, prata, diamantes e pérolas de cultura akoya. Museu Medeiros e Almeida, FMA 874.

Esta peça será possivelmente da autoria do ourives de Lisboa Camilo de Almeida Graça [35], com marca de ourives de 1916 a 1972 [36], que surge com frequência aposta em peças estilisticamente características do século XIX, com o reaproveitamento de pedras desta centúria. No reverso, o fecho de segurança do alfinete, de origem, é também característico do século XX.

O segundo exemplar constitui um grande alfinete de peito (FMA 932), integralmente em ouro com cravação de diamantes, também lapidados em talhe brilhante antigo. Este apresenta uma flor central, emoldurada por arabescos pontuados por elementos florais e vegetalistas, rematada, na porção inferior, por onze pingentes em pampilles – terminologia francesa que designa um modelo de joia europeia, muito popular em meados do século XIX, com uma série de pingentes em forma de seta [37].

Mais uma vez, uma análise atenta revela alguns dos pormenores que denunciam a peça como de manufatura “revivalista” [38]: no reverso, o fecho de segurança do alfinete, sem sinais de ter sido adicionado posteriormente; as roscas da sua estrutura, de manufatura mecânica e não manual; a cravação dos diamantes em ouro, quando em oitocentos seria tipicamente em prata; e o peso do metal utilizado, sobretudo nos elementos estruturais e nas cravações, que nos remete para um período de abundância aurífera, pós-segunda guerra mundial [39].

Proveniência

 

Iniciamos e concluímos o presente estudo com a transcrição de uma nota manuscrita por António da Silva (Joalharia Camões, Lisboa), referente a uma joia oferecida a Margarida de Medeiros e Almeida, cuja correspondência às peças da coleção infelizmente se desconhece:

 

“Exma. Senhora, Sabedores do bom gosto de V. Exª, permitimo-nos presenteá-la com esta fina joia cuja pedraria é toda em brilhantes de primeira água.”

 

17 de setembro de 1959

António P. da Silva

Os termos “de primeira água”, ou “da melhor água”, caídos em desuso, foram muito utilizados para caracterizar a qualidade das pedras preciosas, sobretudo dos diamantes – um “diamante de primeira água” seria, assim, um diamante da mais alta qualidade [40]. Do mesmo modo, utilizam-se ainda hoje na gíria os termos “brilhantes”, assim como “rosas”, para designar os diamantes com estes tipos de lapidações.

A documentação referente às aquisições das joias com diamantes abordadas ao longo deste estudo, no arquivo documental do Museu Medeiros e Almeida, inclui informações relativas à aquisição de algumas, embora não de todas, das peças mencionadas. Esta documentação permite-nos vislumbrar um padrão aquisitivo adotado por Medeiros e Almeida, em relação a este núcleo, revelando aquisições a ourivesarias e antiquários em Lisboa, tais como António P. da Silva (Praça Luís de Camões 40, Lisboa) (FMA 922, FMA 7893), acima mencionado, Francisco Marques da Silva, seu sucessor (FMA 861-864, FMA 856-858), Barreto & Gonçalves (Rua das Portas de Santo Antão, Lisboa) (FMA 873); ao antiquário especializado em joalharia londrino, S. J. Phillips (113 New Bond St., Londres) (FMA 909-913); bem como a particulares (FMA 876).

Atualmente, o núcleo de joalharia do museu é composto tanto por peças originalmente adquiridas como peças de coleção, como por algumas peças do uso pessoal do casal Medeiros e Almeida.

Importa ainda ressalvar que o presente estudo não teve como pretensão realizar um levantamento exaustivo de todas as peças no acervo, por um lado, devido ao enfoque nas joias que incorporam diamantes, e, por outro lado, pelo reconhecimento de que algumas das peças da coleção, sobretudo as que se encontram em reserva, não possuem relevância histórico-artística para nele figurarem.

Por fim, salientamos a necessidade contínua de colaboração entre especialistas e de investimentos em recursos, a fim de possibilitar a identificação precisa e completa de pedras e outros materiais na coleção do Museu Medeiros e Almeida. Compreender e valorizar adequadamente estes materiais gemológicos é fundamental para a preservação do património cultural representado pelas peças da coleção e para promover futuras investigações nesta área.

 

Joana Ferreira

Museu Medeiros e Almeida

[1] Rui Galopim de Carvalho, Pedras preciosas na arte e devoção. Tesouros gemológicos na Arquidiocese de Évora. Lisboa: Fundação Eugénio de Almeida, 2006, 94-96.

[2] James E. Shigley et al., “Inclusions in Gemstones”, Gems & Gemology, vol. 58, n.º 2 (Summer 2022): 234-242; Rui Galopim de Carvalho, “Inclusões, importância em gemologia”, Portugal Gemas, número 8, outubro 2009, 5; Galopim de Carvalho, Pedras preciosas na arte e devoção, 97.

[3] Agradecemos a colaboração de Henrique Braga pela disponibilização dos seus conhecimentos e instrumentos científicos no decurso desta investigação.

[4] Yun Luo e Christopher M. Breeding, “Fluorescence produced by optical defects in diamond: measurement, characterization, and challenges”, Gems & Gemology, vol. 49, n.º 2 (Summer 2013): 82-97.

[5] Karen V. Smit e Steven B. Shirey, “Diamonds from the Deep: How Do Diamonds Form in the Deep Earth?”, Gems & Gemology, vol. 54, n.º 4 (Winter 2018), 442.

[6] Propriedade física que caracteriza a resistência que a superfície de um material oferece ao ser riscada, utilizando-se geralmente para a sua medição um conjunto de dez minerais que constituem a escala de dureza de Mohs, dos menos aos mais duros: 1 – Talco; 2 – Gesso; 3 – Calcite; 4 – Fluorite; 5 – Apatite; 6 – Ortoclase; 7 – Quartzo; 8 – Topázio; 9 – Corindo; 10 – Diamante.

[7] Propriedade ótica que carateriza a reflexão da luz incidente sobre a superfície de uma gema, que deriva do índice de refração, isto é, a razão entre a velocidade da luz no vácuo e a velocidade da luz num determinado meio.

[8] Propriedade ótica que caracteriza a dispersão da luz incidente sobre uma gema, refratando-a entre os diferentes comprimentos de onda, ou diferentes cores do espetro da luz visível, no seu interior.

[9] Propriedade ótica que caracteriza os reflexos da luz incidente sobre as várias facetas de uma gema em movimento, criando um contraste de luz e sombra à sua superfície e no seu interior.

[10] A conjugação destes quatro fatores determina o valor comercial dos diamantes lapidados, tabelado atualmente na Rapaport Price List – Rapaport, “The Rapaport Price List – the Primary Source for Diamond Price Information”, https://www.diamonds.net/Prices/RapaportPriceLists.aspx.

[11] Rui Galopim de Carvalho, Pedras preciosas na arte e devoção, 20.

[12] Êxodo 28:18 e 39:11; Jeremias 17:1; Ezequiel 28:13.

[13] Rui Galopim de Carvalho, “A evolução dos talhes do diamante do século XVI ao século XVIII em Portugal”, Revista de Artes Decorativas, n.º 5 (2011): 153-162.

[14] De fato, apenas se conhece um exemplar da utilização deste talhe em Portugal, tanto em coleções públicas como privadas: um diamante do relicário do Santo Espinho e do Santo Lenho, encomendado pela rainha D. Leonor (1458-1525) em cerca de 1510, no acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (n.º de inventário 106 Our). Vd. http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=260689Rui Galopim de Carvalho, A evolução dos talhes do diamante do século XVI ao século XVIII em Portugal, 153-162.

[15] Galopim de Carvalho, Pedras preciosas na arte e devoção, 22.

[16] Regista-se uma hipótese avançada por Leonor d’Orey, transmitida oralmente e infelizmente desprovida de qualquer evidência documental que a sustente, segundo a qual esta peça poderia ter origem numa escultura de Nossa Senhora proveniente de uma igreja em Setúbal.

[17] Veja-se o exemplo análogo da peça em depósito no Museu Nacional Soares dos Reis (n.º de inventário 211 Our MNSR), reproduzida numa gravura de Froes Machado (1759-1796) como adorno de corpete de uma imagem de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Lisboa (Luísa Penalva. “As jóias da Virgem do Carmo”. AAVV, “Varia”, Revista de História da Arte, n.º 2 (2006), 236-241; “Guarnição de Corpete”, MatrizNet  http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=305340&EntSep=5#gotoPosition).

[18] “Ornamento de corpete”, MatrizNet. http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=257701; Leonor d’Orey, Cinco séculos de joalharia. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Londres: Instituto Português de Museus, Zwemmer, 1995, 11, 58-59; Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, Reais jóias do norte de Portugal, Porto: Palácio da Bolsa, Associação Comercial do Porto, 1995, 54.

[19] Ilustrada em Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, A joalharia em Portugal, 1750-1825, Porto: Livraria Civilização Editora, 1999, 53, 56, 109.

[20] Ilustradas em Vasconcelos e Sousa, Reais jóias do norte de Portugal, 53 e 98.

[21] “Bodice ornament”, Victoria and Albert Museum. https://collections.vam.ac.uk/item/O116849/bodice-ornament-unknown/.

[22] “Breast jewel”, DIVA Museum, Stad Antwerpen https://divaantwerp.be/en/collection/explore/dmk961-26158; Jan Walgrave. The Splendour of Diamond, 46, 243-244.

[23] “Joya de pecho, CE28757”, CER.ES (Colecciones en Red), Ministerio de Cultura y Deporte. https://ceres.mcu.es/.

[24] Por vezes apelidados de “diamantes indianos”, em alusão aos diamantes utilizados na Europa de seiscentos e de transição para setecentos, anteriores à descoberta dos diamantes do Brasil, em cerca de 1720. Consideramos que é importante abordar esta terminologia com cautela e considerar algumas questões pertinentes… Em primeiro lugar, considere-se a origem geográfica dos diamantes, maioritariamente procedentes da Índia, mas também, embora em reduzidas quantidades, do sudeste asiático (Bornéu). Além disso, é relevante destacar que os diamantes utilizados na Índia eram frequentemente polidos de forma rudimentar, aproveitando o hábito cristalino da pedra, o que difere dos diamantes lapidados em estilos europeus, como os que encontramos nas peças em análise. Por outro lado, a utilização do termo “diamantes indianos” como referência a uma datação pré-1720 parece descurar a continuidade de circulação e utilização de diamantes provenientes da Índia, muito após esta data (Henrique Braga e Sofia Ruival, “As joias da Carreira da Índia”, Revista Ourivesaria Portuguesa, n.º 2, abril 2015, 43).

[25] Vejam-se, a título exemplificativo, os exemplos comparativos coevos: Leonor d’Orey e António Filipe Pimentel, La magie des couleurs et des pierres. Bijoux du XVIe au XIXe siècle, Bruxelas: Piet Jaspaert, 1991, 71; Gonçalo de Vasconcelos e Sousa e Rosa Maria dos Santos Mota, Entre ouros e pedrarias na colecção IFC, Porto: Colecção IFC, 2022, 27, 29, 68; D’Orey, Cinco séculos de joalharia, 50 e 67.

[26] Marca do ourives do Porto Guilherme Pinto da Silva, registada em 1891, transferida em 1940 para Guilherme Pinto da Silva, Sucessores, e cancelada em 1968. Manuel Gonçalves Vidal e Fernando Moitinho de Almeida, Marcas de Contrastes e Ourives Portugueses, volume II (1887 a 1993), Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1997, 194 (marca n.º 1866).

[27] Rui Galopim de Carvalho, pers. comm., 19.06.23.

[28] Henrique Braga e Sofia Ruival, “Splendor et Gloria. Cinco joias setecentistas de exceção”, Revista Ourivesaria Portuguesa n.º 1, novembro 2014, 15.

[29] Henrique Braga, pers. comm., 30.04.23.

[30] João Júlio Rumsey Teixeira, mensagem de email endereçada à autora em 09.02.22.

[31] Henrique Braga, pers. comm., 30.04.23.

[32] Henrique Braga, pers. comm., 30.04.23.

[33] Romy Cockx; Iris de Feijter, Brilliant stories. On gold – and silversmithing, jewellery, and diamonds, Antuérpia: DIVA, Lannoo Publishers, 2018, 118-119.

[34] Veja-se pulseira similar, em estojo idêntico, no leilão de 16 de julho de 2020 da Maison Aguttes, em Paris: Agutes, “Boucheron”, https://www.aguttes.com/lot/104636/12921504-boucheron-important-bracelet-d.

[35] Henrique Braga, pers. comm., 30.04.23.

[36] Vidal e Almeida, Marcas de Contrastes e Ourives Portugueses, 47 (marca n.º 398).

[37] Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, “Representações fito e zoomórficas na joalharia em Portugal no século XIX”, 3r Congrés Europeu de Joieria “La Joia en L’art i L’art en la Joia”, Barcelona: Museu Nacional d’Art de Catalunya, 2018, 284.

[38] Observe-se a joia oitocentista de desenho similar no retrato da Condessa de Alpendurada, D. Josefina Augusta Vieira de Magalhães, pintado por João António Correia em 1863, com um alfinete de peito em pampilles (coleção da Casa da Companhia, Paço de Sousa), reproduzida em: Vasconcelos e Sousa, Reais jóias do norte de Portugal, 31; Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, “Jóias, retratos e a iconografia das elites portuguesas de oitocentos”, Revista de História da Arte, n.º 5 (2008), 263-265; Vasconcelos e Sousa, “Representações fito e zoomórficas na joalharia em Portugal no século XIX”, 285. Apesar da subjetividade de análise de uma reprodução, de reduzidas dimensões, de uma pintura, quase podemos asseverar tratar-se de uma peça de cravação em prata, e não em ouro.

[39] Henrique Braga, pers. comm., 30.04.23.

[40] AA. VV., Normas de inventário: Ourivesaria, Lisboa: Instituto dos Museus e da Conservação, 2011, 128; Rui Galopim de Carvalho, “Nomenclatura Gemológica. Interpretação de expressões em desuso”, Portugal Gemas, número 5, janeiro 2009, 7.

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COMO CITAR / HOW TO CITE:

Ferreira, Joana. “Brilhantes de primeira água. Diamantes na coleção do Museu Medeiros e Almeida”. Museu Medeiros e Almeida, 2023. https://www.museumedeirosealmeida.pt/pecas/brilhantes-de-primeira-agua/.

 

 

NOTAS

O presente estudo contou com a colaboração de Henrique Braga, a quem agradecemos as suas indispensáveis contribuições e pronta disponibilização de conhecimentos e instrumentos científicos. Expressamos também o nosso reconhecimento a José Júlio Rumsey Teixeira e a Rui Galopim de Carvalho pelas suas contribuições ao longo dos anos, no estudo das peças de joalharia e dos materiais gemológicos presentes na coleção.

 

A investigação em História da Arte é um trabalho permanentemente em curso. Caso tenha alguma informação ou queira colocar alguma questão a propósito deste texto, agradecemos o contacto para: info@museumedeirosealmeida.pt.

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