A existência de várias fénixes alude à condição feminina da presenteada – pois são o símbolo da imperatriz – e à alegria, justiça e paz que estão relacionadas com a presença desta criatura sobrenatural que só aparece em tempos de paz e de um reinado justo. As duas fénixes com um rolo no bico, deverão simbolizar o gosto pela pintura, poesia e caligrafia, logo a erudição da presenteada. O dragão do topo da composição remete para a posição social da família; o facto de ter quatro garras indica que são nobres (5 garras é de uso exclusivo do imperador e três dos não nobres). Pelas inscrições podemos verificar que se trata de uma família de mandarins (oficiais da corte), de grau III (numa escala de nove), uma honra muito elevada.
A tradição continua…
A China tem a mais longa tradição cultural do mundo sendo o campo das artes por excelência, guardião de valores estéticos advindos do sistema de aprendizagem artística que se fundamentava na cópia dos mestres antigos.
Apesar da colcha ter sido feita já no século XIX, ela encerra em si elementos que se mantiveram inalterados através de séculos como o simbolismo ideológico, a celebração da longevidade, a piedade filial, o ritual das ofertas, a veneração dos antepassados e o perfecionismo, proporcionando uma leitura das características tradicionais chinesas – mais do que as fórmulas, são os valores que se mantiveram eternos.
Proveniência:
O pano de armar foi adquirido por Medeiros e Almeida em leilão da Soares e Mendonça, R. Luz Soriano (53, 1º) em Lisboa, a 18 de novembro de 1967, (lote 481), por 5.000$00.
NOTA: A autora agradece a Rui Ferreira da Liga da Multissecular Amizade Portugal-China, a tradução das inscrições (2012)
Maria de Lima Mayer
Casa-Museu Medeiros e Almeida
Bibliografia:
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Publicações on line:
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Dicionários:
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WILLIAMS, C.A.S., Chinese Symbolism and Art Motifs; Singapore, Tuttle Publishing, 2006