Penélope

7 JULHO – 12 AGOSTO 2023
Luís Rosa e Nuno Geada

Uma instalação artística das oficinas de papel e tecelagem manual da Fundação AFID Diferença.

Inauguração: 
6 de julho, às 17h
Museu Medeiros e Almeida
Rua Rosa Araújo, 41. 1250-194 Lisboa
Entrada livre

A inauguração conta com a participação da cantora Margarida Arcanjo que irá ilustrar, numa conversa informal, algumas pontes deste mito com a cultura portuguesa.

Penélope

Apresentada pela primeira vez no salão do Teatro Thalia em 2018, esta instalação é composta por seis peças suspensas, às quais se acrescenta agora uma sétima.

A técnica utilizada em tecelagem manual pelo Luís Rosa incorpora no tecido materiais como arame e fio de nylon. Na figura central, a trama do tecido é modelada para permitir uma ideia de leveza que contrasta com a densidade da cinta em pasta de papel, da autoria de Nuno Geada. As duas técnicas são novamente cruzadas na figura ao fundo.

A disposição apresentada procura encenar as tensões entre diferentes personagens do mito grego de Penélope, filha de Icário: Penélope era uma jovem tecedeira que aguardou muitos anos pelo regresso do seu marido, Ulisses (ou Odisseu), que partira para a guerra em Tróia. Durante esse tempo, continuamente pressionada pelo pai a um novo casamento de conveniência, Penélope apresentou como condição que primeiro pudesse acabar de tecer uma veste. Icário aceitou e observava Penélope trabalhar com dedicação, mas o resultado permanecia continuamente inacabado e o novo casamento foi sendo adiado ao longo de anos, até à chegada de Ulisses. Ardilosamente, Penélope conseguiu levar a cabo a sua espera porque o que tecia durante o dia, desmanchava durante a noite, para refazer no dia seguinte sem que o pai se apercebesse.

Revemos então nesta história uma metáfora do labor artístico que ritma o dia o dia das oficinas da AFID – o reaproveitamento dos matérias-primas, o foco no processo criativo e na obra como permanente metamorfose, o estímulo de uma prática quotidiana e paciente, os benefícios terapêuticos como objetivo fundamental e o potencial do arte como expressão de uma vontade inibida no contexto da deficiência, porto voz para uma sociedade mais consciente e inclusiva.

Ao deambular pelo espaço, encontramos nas diferentes texturas e na delicadeza dos jogos de transparência das vários peças, as relações entre os diferentes protagonistas desta história: a figura feminina ao centro, confrontada com os seus pretendentes, outra figura tubular e austera que preside a cena e, ao fundo, a figura de Ulisses cujo regresso permanece iminente – o contínuo horizonte que nos inspira a persistir.

A Fundação AFID Diferença é uma instituição de utilidade pública, com mais de 35 anos de existência, que se dedica a iniciativas de reabilitação, educação, formação e inserção socioprofissional de pessoas com deficiência e desenvolve igualmente um conjunto de atividades de apoio à comunidade e serviços de proximidade nos domínios do ambiente, assistência e solidariedade social, apoio à infância e à terceira idade.

A Fundação AFID Diferença tem vindo a consolidar uma clara aposta na área artística, traduzida tanto no investimento interno nesta área de intervenção em quatro oficinas artísticas (Cerâmica, Papel, Pintura e Tecelagem Manual), um grupo de Dança e outro de Percussão, como também num programa expositivo anual em parceria com prestigiadas instituições e museus. Assim, tem desenvolvido um importante trabalho no âmbito da “Arte como Terapia“, pretendendo ser uma voz de consciencialização e relevando valores como a inclusão, a igualdade de oportunidades e o desenvolvimento da expressão individual e do papel que a prática artística pode desempenhar neste contexto.

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Ulisses