J. Josephsz. van Goyen no Museu – Destaque Novembro 2016

Jan Josephsz. van Goyen no Museu

Na coleção de pintura holandesa e flamenga do Museu Medeiros e Almeida existe um núcleo único de oito pinturas do pintor holandês Jan Josefosz. van Goyen (1596-1656), óleos sobre madeira de carvalho, assinados e datados.

O artista trabalhou na primeira metade do século XVII sendo considerado um dos primeiros paisagistas dos Países Baixos, um movimento em que a paisagem, o ciclo natural da vida é a protagonista. Nasceu em Leiden no final do século XVI, em 1596 e morreu em Haia, para onde foi trabalhar no início dos anos 30, em 1656, aos 60 anos.

Curiosamente, das oito pinturas, seis foram adquiridas por Medeiros e Almeida à mesma colecionadora britânica, quatro em 1955 e duas 1958, a mais tardia, datada de 1652, foi adquirida para a coleção, num leilão em Paris, de afamada Galerie Charpentier, em 1956. e a outra obra, a mais recuada, de 1623, foi adquirida num leilão da Christie’s em 1958, em Londres.

Sobre as obras sabemos que são provenientes de diversas coleções europeias de renome e que estiveram expostas em exposições temporárias tanto antes de integrarem o acervo como já pertencendo a Medeiros e Almeida.

Este núcleo é representativo do percurso artístico de van Goyen que se carateriza essencialmente por 3 fases: temos três pinturas dos anos 20 onde ainda se reflete a influência do seu grande mestre Esaias van de Velde, que são paisagens campestres, de pendor realista, em composições coloridas, com jogo de luz/sombra, atenção ao detalhe, com grupos de personagens envolvidos em atividades diárias, mas sem grande cunho pessoal.

No grupo de quatro peças de final dos anos 30 e dos anos 40, o artista já encontrou o seu estilo, dedica-se à marinhas e à pesquisa dos efeitos atmosféricos manifestando preocupando-se com a pesquisa da luz, dos seus efeitos na representação dos céus, das nuvens, do seu movimento, e caminha para o monocromatismo, numa versão de tonalidades sóbrias, frias, de onde os horizonte baixos que lhe são caraterísticos mas a luz, os contrastes também são refletidos no mar, nos rios onde coloca embarcações, linhas de costa e também personagens – comerciantes, barqueiros, marinheiros e pescadores, que surgem apenas para dar escala, um apontamento realista e contraponto com as paisagens marítimas.

Da terceira fase, anos 50’s, de pendor monocromático e de um realismo fotográfico, a coleção possui um exemplar, uma vista da cidade de Haia, no qual se nota já uma paleta muito reduzida, de castanhos e amarelos e um gosto pela representação topográfica. Nesta obra podem-se identificar arquiteturas específicas da capital dos Países Baixos.

 

As pinturas encontram-se expostas na Ala Antiga do Museu, no corredor de entrada da residência do colecionador (5), e na escadaria (3) que dá acesso aos apartamentos privados no primeiro andar.

 

A paisagem como protagonista
Como temática propriamente dita e não somente o cenário ou suporte de narrativa, a pintura de paisagem foi uma criação da Holanda do início do século XVII. Sendo a nação mais urbanizada do século XVII, e um país com um cenário natural algo desinteressante, enquanto plano, cinzento e monótono, paradoxalmente, a Holanda inventou a pintura naturalista, uma Ars Nova, que iria mudar radicalmente o paradigma da pintura ocidental.

Anunciada anteriormente na pintura alemã e flamenga de finais do século XVI, apesar de carregada de associações, alusões e metáforas, a paisagem – enquanto tradução do mundo real – foi conquistando terreno.

Esta nova experiência; a introdução do mundo como um local experienciado pelas pessoas e traduzido para a tela com honras de protagonismo, foi adoptada e adaptada pelos pintores holandeses que desenvolveram a nova visão representando o seu país tal como o viam e exprienciavam, um país construído por si mesmos, conquistado ao mar, do qual tinham muito orgulho.

Assim, a sua terra natal era traduzida em paisagens de cidades e seus canais, de aldeias, em simples vistas de estradas de campo, e de marinhas, de praias ou dunas, plasmando ainda as estações do ano no céu, nas águas de mares e rios ou nos diferentes acidentes geográficos.

Não constituindo o seu foco primordial,  as pinturas eram, por vezes, pontuadas com personagens envolvidos em atividades quotidianas ou animais, representados em leves pinceladas, que emprestavam apontamentos de cor e de escala a estas representações.

Surgia um novo género pictórico que viria a conquistar o seu lugar de destaque na história da arte.

Cena de aldeia, 1623

Tal foi a importância deste olhar que deu origem a uma nova palavra – inexistente até então no Ocidente – landschap (e subsequentemente a palavra inglesa landscape), que passou a caracterizar o género pictórico. A sua etimologia remete para a noção de natureza, dos elementos naturais e do seu registo visual por parte do observador.
Nesta cadeia de acontecimentos, surge ainda uma literatura que canta a paisagem – o hofditch; os conhecidos poemas que versam e gabam a beleza das casas de campo – e, consequentemente, o culto dos jardins de recreio e gosto pela jardinagem, movimentos que virão, também por si a ganhar enormes dimensões e a ganhar o seu lugar no quotidiano.

 

A nova Holanda
Tendo a República das Províncias Unidas Holandesas sido formada em 1581 após a independência do jugo espanhol, professando a fé Calvinista e organizando-se em províncias regidas por estadistas, a recém-nascida sociedade holandesa encontrou-se sem os tradicionais encomendantes de arte; a aristocracia e a Igreja.

Nesta altura, a pintura de retábulos sacros e a imaginária perdem-se pois eram mal considerados à luz da idolatria papista. A prosperidade económica do país levou, porém, ao aparecimento de uma alargada burguesia endinheirada cuja aceitação deste novo tipo de pintura – numa tradução do seu mundo, de fácil entendimento, sem narrativa implícita e agradável à vista – foi esmagadora.
Nas primeiras décadas de seiscentos, a produção e o mercado de pintura aumentaram enormemente, tendo para isso contribuído a moda que se afirmou. A produção era numerosa e, no geral, não resultante de encomendas específicas, pelo que as tradicionais regras de mercado se alteraram sendo a pintura vendida no mercado livre e transacionada ao sabor das leis da oferta e da procura, numa nova interação entre o artista e a sociedade.

Paisagem com bom tempo, 1625

Paisagem com mau tempo, 1625

As imagens do campo apelavam tanto aos sentidos, à fruição – lembrando o prazer de uma tarde de lazer – como eram imagens de um orgulho patriótico; orgulho na independência de Espanha e no bem-estar económico recém-conquistados mas principalmente num país construído pelas próprias mãos, conquistado ao mar (no século XVII acrescentaram-se cerca de dois terços ao território) que originou o ditado popular holandês: “Deus criou o mundo, os Holandeses criaram a Holanda” .

 

A importância da pintura de paisagem
A viagem que nos leva da época medieval ao dealbar do século XVII preparou um contexto de condições estéticas, formais, sociais, geográficas, económicas, políticas, religiosas e científicas que levaram a que a Holanda fosse o berço oficial da pintura de paisagem. É de salientar que na Flandres católica, sob domínio de um império e da tradição, Peter Paul Rubens (1577-1640) e A. van Dyck (1599-1641) seguem a estética do Barroco fazendo pintura religiosa, de história, mitológica e retrato de aparato, numa afirmação do poder diferenciador dos contextos.
Em jeito de resumo, não esquecendo que a paisagem esteve sempre presente na arte ocidental, podemos traçar o percurso da sua representação desde a Antiguidade Clássica Grega e Romana em que surgia em segundo plano com um papel meramente decorativo, de valor agradável, para assumir uma função, um papel simbólico e uma representação esquemática na época medieval – não esquecendo o caso particular da iluminura -, passando a suporte de narrativa pelas suas características descritivas se bem que idealizadas no Renascimento. Começando a insinuar-se no século XVI quando ganhou estatuto de proto paisagem, a paisagem conquista finalmente total protagonismo e carácter de registo naturalista na Holanda do século XVII.

Vista perto de Dordrecht, 1639

Para além do contexto histórico, social, político, económico da Holanda, há que ter em conta as razões do campo estético e formal como a forte tradição pictórica formada, no contexto flamengo, desde a pintura de iluminura medieval até ao final do século XVI. A iluminura, pelo seu carácter miniatural, trata a natureza com extrema fidelidade, já que actua, neste tipo de pintura, como descrição do real, do quotidiano.
Paralelamente, em meados do séc. XV, o desenvolvimento da técnica da xilogravura na Alemanha e a sua divulgação maciça pelo resto da Europa, veio contribuir para o intercâmbio de ideias, divulgando a obra dos artistas. Na Flandres, a divulgação de estampas pelas editoras ajudou a difundir o gosto pela paisagem, concorrendo para o estabelecimento de uma nova moda e alertando a imaginação dos pintores.
É de extrema importância ainda a abertura das mentes verificada na Holanda que desde o século XV abraça as ideias humanistas defendidas por Erasmo de Roterdão (1466-1536) que privilegiam a valorização do Homem, recentrando a percepção do mundo. Para este facto também contribuiu a gesta dos descobrimentos e consequente globalização, num alargamento da concepção do mundo e no despertar da curiosidade científica que levou ao aprofundamento do estudo de ciências como a matemática, a cartografia, a geografia, a astronomia e a botânica.
Na Holanda de seiscentos abriu-se assim um vasto leque de entendimento(s) da paisagem, das suas representações, implicações e ambiguidades que conquistou um estatuto na história da arte, que jamais viria a perder. Tal é a importância da pintura de paisagem.

Vista perto de Scheveningen, 1643

Jan Josephsz. van Goyen
Jan Josephsz. van Goyen nasceu em Leiden em 13 de janeiro de 1596 e morreu em Haia em 27 de abril de 1656. O pintor e desenhador foi um dos primeiros paisagistas holandeses; estudou em Harlem onde foi aluno de Isaac Nicolai van Sweenburgh (1537-1624) e de Esaias van de Velde (1591-1630) que muito o influenciou na vertente da pintura de paisagens realistas.

Jan trabalhou em diversas cidades holandesas como Leiden (1618-20’s), Harlem e Kleef e viajou constantemente tanto pelo seu país como por França. Cerca de 1632 estabeleceu-se definitivamente em Haia, à época em franca expansão comercial e imobiliária, onde, para além da sua atividade como pintor, comerciava em antiguidades, no imobiliário e no negócio das tulipas (compra e venda de bolbos de tulipas) com o qual sofreu grande revés financeiro aquando do “crash” provocado pela “tulipomania” que ocorreu em fevereiro de 1637. Em 1638, é eleito o deão da importante Guilda de São Lucas, corporação de pintores que regulava o comércio de pintura na cidade. Apesar das diversas atividades, morreu deixando grandes dívidas à sua viúva. Entre os seus alunos destaca-se o famoso pintor Jan Steen (1626-1679) que se tornou seu genro.
Dentro do novo género naturalista, Van Goyen dedicou-se às marinhas, paisagens de campo, de rios, de dunas, de gelo e de praias, vistas de cidades e cenas de género. Van Goyen foi muito prolífico, conhecendo-se cerca de 200 pinturas e mais de 1000 desenhos. O sucesso da sua pintura granjeou-lhe diversos seguidores e imitadores, tendo sido um artista muito copiado.

Vista do Maas, 16(4)3 

O trabalho de Jan van Goyen é relativamente fácil de traçar pois geralmente assinava e datava as obras. As suas obras mais recuadas, datando dos finais da década de dez e início dos anos 20’s, são geralmente pequenas cenas de aldeia, cenas no gelo e paisagens cheias de personagens e muito coloridas revelando a aproximação ao estilo do mestre van de Velde. Com o decorrer dos anos vinte as suas paisagens tornam-se mais sóbrias e monumentais e o uso da cor é refreado, pintando vistas de rios com cores frias à imagem dos seus contemporâneos de Harlem, Salomon van Ruisdael e Pieter de Molijn. Nas décadas de 1630 e 1640 a pintura de paisagem holandesa enveredou por uma fase monocromática, na qual uma única cor prevalece unificando a cena. Van Goyen foi adepto desta corrente utilizando uma paleta de castanhos, amarelos, verdes e ocres em diversos tipos de paisagem, onde os diversos elementos de paisagem ou humanos surgem unicamente apontados por meio de sugestivos traços.

O Ferry, 1644

Apesar das críticas que esta técnica, feita com pinceladas rápidas e com criação de elementos sugeridos, se destinava a aumentar a produção, o trabalho de Van Goyen traduz a procura da interpretação dos tons sóbrios da luz, céus, mares e de campo, que compõem a frugal atmosfera holandesa, conseguida pelo uso de uma paleta tonal e pela simplicidade temática.

O livro de desenhos que sempre o acompanhava para registar o natural e que constituía a base das suas pinturas, prova que era um trabalhador árduo e muito virtuoso. Entre os seus melhores trabalhos contam-se as muitas vistas panorâmicas de cidades ribeirinhas que pintou, tendo como caraterística conterem elementos topográficos perfeitamente identificáveis e que muito agradaram aos seus coevos.

Porquanto muito apreciado em vida, como o provam as importantes encomendas que obteve, nomeadamente da parte dos regentes de Haia, o pintor foi esquecido pela historiografia durante os séculos seguintes, tendo a sua obra sido reabilitada a partir do final do século XIX, pelo historiador e seu biógrafo, Abraham Bredius (1855-1946). Enquanto diretor do Museu Mauritshuis de Haia, Bredius estudou o autor e integrou obras suas no acervo.

Em 1903 o Museu Stedelijk de Amesterdão organizou uma exposição temporária, afirmando a redescoberta do artista. O estudo aprofundado do seu trabalho tem demonstrado que Van Goyen tem o seu lugar entre os primeiros tradutores do novo tipo de pintura, consagrando o seu nome como um dos grandes pintores de paisagem holandeses.

Vista de Haia, 1652

Os oito Van Goyen da Casa-Museu
O conjunto de pinturas da coleção carateriza bem o percurso pictórico de Jan van Goyen; do início da década de vinte registam-se três cenas de aldeia (1623, 1625, 1625) povoadas de personagens cujo papel é secundário, destacando-se o protagonismo do pendor realista desta tipologia e uma paleta colorida, adquiridos na aprendizagem com o mestre Esaias Van de Velde (1951-1630).

As assinaturas desta primeira fase do artista (1620’s) são caraterísticas, ostentando na palavra Goyen, um “i”, em vez de “y”: I.V.Goien

 

Datada de 1639, as pinturas Vista perto de Dordrecht, a Vista de Scheveningen (1643), e O Ferry (1644), assinadas simplesmente VG, traduzem o período em que o autor abandonou a influência do mestre, reduziu o número de presenças figurativas e recorreu a uma linguagem cromática mais fria e sóbria (ao estilo de Harlem), começando a pintar marinhas e troços ribeirinhos ou cidades, a representar horizontes baixos, capturando a imponência dos mares e céus semeados de nuvens.

As duas restantes obras; Vista do Maas (1643) e Vista de Haia (1652) representam a terceira fase em que, a recuperar do desaire financeiro da sua participação no mercado das tulipas, continua a pintar paisagem, desenvolvendo a pintura tonal, monocromática. A Vista de Haia, talvez a tábua mais prestigiada do conjunto, possui a já referida caraterística topográfica que marcou as suas duas últimas décadas. Nesta pintura identifica-se na cidade de Haia, com um caraterístico moinho em primeiro plano, entre outras construções, um dos mais antigos edifícios da cidade, a torre da igreja protestante de São Jaime (Grote ou Sint-Jacobskerk), com a sua torre hexagonal, na Torenstraat.

É famosa a pintura do mesmo cariz, encomendada a Van Goyen em 1650, pelos magistrados da cidade de Haia, que representa uma grande vista da cidade. O painel “Vista de Haia”, do Haags Historisch Museum,  tem 174x460cm e nele é possível identificar diversos edifícios da cidade da atual província da Holanda do sul.

 

Proveniência

De acordo com a extensa documentação dos arquivos do Museu, as oito tábuas da coleção foram adquiridas entre 1955 e 1958, na maioria, à viúva de um colecionador inglês, Geoffrey Hart (Whych Cross Place, Sussex, Inglaterra) que, ao longo do tempo e de diversas transações, se tornou amiga do casal Medeiros e Almeida; Dorothy Hart.

 

Geoffrey and Dorothy Hart – Which Cross Place, East Sussex, Inglaterra

 

Apenas duas pinturas foram adquiridas no mercado de arte; Vista de Haia foi adquirida num leilão em Paris em 1956 e a Cena de Aldeia num leilão da Christie’s de Londres, em 1958, através do antiquário londrino John Mitchell, que frequentemente colaborava com o colecionador.

 

Todas as pinturas são provenientes de ilustres coleções europeias, testemunhando a importância deste núcleo:

Cena de Aldeia – coleção Princesa M.W. Woronzow (c.1900), Florença, Itália / coleção baronete Jeremiah Colman (1859-1942), Hampshire, Inglaterra / Nota: certificado pelo historiador da arte alemão Wilhelm von Bode (1845-1929);

Paisagem com bom tempo – coleção Geoffrey Hart, Whych Cross Place, Sussex, Inglaterra / coleção Dorothy Hart, Sussex – Londres, Inglaterra;

Paisagem com mau tempo – coleção Geoffrey Hart, Whych Cross Place, Sussex, Inglaterra / coleção Dorothy Hart, Sussex – Londres, Inglaterra.

Vista do Maas – coleção Geoffrey Hart, Whych Cross Place, Sussex, Inglaterra / coleção Dorothy Hart, Sussex – Londres, Inglaterra

Vista perto de Dordrecht – colecção antiquário e colecionador Charles Sedelmeyer (1837-1925), Paris, França / coleção bibliógrafo Thomas James Wise (1859-1937), Londres, Inglaterra / coleção Geoffrey Hart, Whych Cross Place, Sussex – Londres, Inglaterra / coleção Dorothy Hart, Sussex – Londres, Inglaterra

Vista perto de Schveningen – colecção antiquário e colecionador Charles Sedelmeyer (1837-1925), Paris, França / coleção C.H.B. Caldwell, Londres, Inglaterra / coleção Geoffrey Hart, Whych Cross Place, Sussex – Londres, Inglaterra / coleção Dorothy Hart, Sussex – Londres, Inglaterra;

O Ferry – coleção duque Albercht Léopold Ferdinand Michael von Wittelsbach (1905-1996), Baviera, Alemanha / coleção Geoffrey Hart, Whych Cross Place, Sussex – Londres, Inglaterra / coleção Dorothy Hart, Sussex – Londres, Inglaterra;

Vista de Haia – coleção de Thomas Jodocus Loridon de Ghellinck, Gante, Bélgica / colecção Pouyer-Quertier, Paris, França / coleção Louis Deglatigny (1854-1936), França / coleção barão Jean-Germain Léon Cassel van Doorn (1882–1952), Bruxelas, Bélgica – New Jersey, EUA / coleção baronesa Marij Vicentia Cassel van Doorn (1935-), Bruxelas, Bélgica – New Jersey, EUA;

 

Exposições:

Antes de pertencerem à coleção de Medeiros e Almeida, as seis pinturas que pertenceram aos colecionadores Hart foram exibidas na exposição “Art of the Netherlands” na Worthing Art Gallery, Worthing, Inglaterra em 1952; foram também expostas na exposição temporária de Inverno da Royal Academy of Arts de Londres “Dutch Pictures 1450-1750” de 1952-53 (nº245 -Hart collection), e em Brighton, Inglaterra, em 1956;

A pintura “Cena de Aldeia”, ainda pertencente à coleção de Sir J. Colman, foi exposta na Southampton Art Gallery;

Já pertencendo à coleção de António de Medeiros e Almeida, as obras “Cena de Aldeia”, Paisagem com mau tempo”, “Vista perto de Dordrecht” e “Vista de Haia” foram expostas na exposição temporária itinerante “Jan van Goyen” que decorreu no Museu Stedelijk  de Lakenhal em Leiden na Holanda entre 4 de junho e 27 julho de 1960 (nº45 do catálogo), e no Museu Gemeente, em Arnhem, Holanda entre 31 julho e 26 de setembro de 1960 (nº45 – reprodução nº27).

Mais tarde, por ocasião dos 400 anos do nascimento do pintor, o par de óleos “Paisagem com mau tempo” e “Paisagem com bom tempo” e a pintura “Vista de Haia”, voltaram a ser expostas no Museu Stedelijk de Lakenhal, em Leiden, na exposição temporária “Jan van Goyen”, que teve lugar entre 12 de outubro de 1996 e 13 de janeiro de 1997.

O conjunto das oito obras foi exposto no Museu Medeiros e Almeida na exposição temporária “Realidade e Capricho – A pintura flamenga e holandesa da Fundação Medeiros e Almeida”, que teve lugar entre 25 de novembro de 2008 e maio de 2009.

A obra “Vista perto de Schveningen” foi exposta na exposição “Weltliteratur – Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o Mundo!”, no Museu Calouste Gulbenkian em Lisboa, que se realizou entre 30 de Setembro de 2008 e 4 de Janeiro de 2009 e, mais tarde, na exposição “As Idades do Mar”, que se realizou na mesma instituição lisboeta de 26 de outubro de 2012 a 27  de janeiro de 2013.

No final de 2023, o Museu Medeiros e Almeida integrou um grupo de investigação que ganhou um Projeto Exploratório do IN2PAST, com o objetivo de estudar o grupo de oito pinturas da coleção. O projeto intitula-se: “The Materials and Techniques of Jan van Goyen: A Technical Study of Eight Small Paintings” e é conduzido por seis entidades:

Laboratório HERCULES, Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora

ARTIS – Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa
Centro de estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia (ISA), Universidade de Lisboa
Instituto de História da Arte (IHA), Universidade NOVA de Lisboa
Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA), Universidade de Évora
Museu Medeiros e Almeida (MMA), Lisboa

De acordo com os objetivos do projeto: “Esta iniciativa de pesquisa centra-se no estudo de oito pinturas de paisagem atribuídas a Jan van Goyen (1596-1656), um notável pintor de paisagens holandês do século XVII, expostas no Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa. O objetivo principal é explorar o contexto histórico do artista e o enquadramento artístico que rodeia estas obras de arte.

A metodologia de pesquisa envolve uma análise abrangente dos métodos de trabalho, materiais e contexto histórico da arte por meio de análises técnicas das pinturas. O processo inclui análise de pigmentos, análise de camadas, análise de preparação e dendrocronologia. O projeto visa ainda identificar os painéis de madeira utilizados pela oficina de Jan van Goyen, explorando as suas técnicas de montagem e datas. Os resultados da dendrocronologia serão cruzados com o banco de dados da RKD, especificamente para 38 pinturas provenientes de museus alemães, americanos, suecos e holandeses.

O projeto procura ainda expandir a base de dados do artista de modo a incluir outras obras não exploradas e de outros artistas incluindo duas pinturas do Museu Nacional de Oslo, marcando o início de uma investigação futura num contexto artístico mais amplo.”

Os estudos encontram-se a decorrer.

 

Maria de Lima Mayer
Museu Medeiros e Almeida

 

NOTA: A investigação em História da Arte é um trabalho permanentemente em curso. Caso queira colocar alguma questão a propósito desta obra ou deste texto, agradecemos o contacto para: info@museumedeirosealmeida.pt


Bibliografia
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BENGTSSON, Ake, WICKMAN, Bo (trad.); Studies on the rise of realistic landscape painting in Holland 1610-1625, Stockholm: Almqist & Wiskell, 1952
BERQUE, Augustin (coord.); Cinq Propositions pour une Théorie du Paysage, BERQUE, Augustin, Paysage, milieu, histoire, Paris: Champ Vallon, 1994
BOURASSA, Steven C.; The Aesthetics of Landscape, London/New York: Belhaven Press, 1991
BÜTTNER, Nils; L’Art des Paysages, Paris: Citadelles & Mazenod, 2007
CLARK, Kenneth; Paisagem na Arte, Lisboa: Editora Ulisseia, 1961
HUNT, John Dixon; The Pastoral Landscape, Washington: The National Gallery, 1992
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STECHOW, Wolfgang; Dutch Lansdscape Painting of the Seventeenth Century, Londres: Phaidon, 1996
Publicações periódicas:
RUSSELL, Margarita; Exhibition Review, Leiden – Jan van Goyen, The Burlington Magazine, Nº 1126, Vol. CXXXIX, Jan 1997
Catálogos de Exposições:
SUTTON, Peter C.; Masters of 17th Century Dutch Landscape Artists, SCHAMA, Simon; Dutch Landscapes: Culture as Foreground, Amsterdam: Rijksmuseum; Boston: Museum of Fine Arts; Philadelphia: Philadelphia Museum of Art, 1987
VILAÇA, Teresa (coord.), FRANCO, Anísio; Realidade e Capricho – A pintura Flamenga e Holandesa da Fundação Medeiros e Almeida, Lisboa: Fundação Medeiros e Almeida, 2008

Recursos on line:
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http://www.essentialvermeer.com/dutch-painters/dutch_art/ecnmcs_dtchart.html
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BRENNER, Carla; RIDDELL; Jennifer; MOORE, Barbara; Painting in the Dutch Golden Age – A profile of the Seventeenth Century – A Resource for Teachers; Washington: National Gallery of Art, 2007 / http://www.nga.gov/education/classroom/dutch/dutch_painting.pdf
RDK NETHERLANDS – Netherlands Institute for Art History, Jan van Goyenhttps://rkd.nl/en/artists/33103

Autor

Jan Josephsz. van Goyen (1596-1656)

Data

1623; 1625; 1625; 1639; 1643; 1643; 1644; 1652

Local

Leiden / Haia (Holanda)

Materiais

Óleo sobre madeira de carvalho

Dimensões

Cena de aldeia: 36,5x72cm; Paisagem com bom tempo: 22x44,5cm; Paisagem com mau tempo: 22x44,5cm; Vista perto de Dordrecht: 41x64cm; Vista do Maas; 33x54cm; Vista perto de Scheveningen: 39,5x59,7cm; O Ferry: 34,5x51,5cm; Vista de Haia: 24,5x36cm

Nº de Inventário

FMA 390; FMA 391, FMA 392; FMA 372; FMA 373; FMA 353; FMA 374; FMA 376

Category
Destaque