O Colecionador

António de Medeiros e Almeida nasceu em Lisboa a 17 de Setembro de 1895, primogénito de João Silvestre de Almeida (1865-1936) e Maria Amélia de Medeiros e Almeida (1864-1945), ambos oriundos da ilha de São Miguel no arquipélago dos Açores, a residir na capital continental desde cedo.

O pai formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra exercendo clínica  em Lisboa com grande sucesso, chegando a ser convidado para médico da corte do Rei D. Carlos.

João Silvestre era também grande empreendedor tendo sido fundador do projeto do Elevador de Santa Justa com Raoul Mesnier de Ponsard e da empresa “Tabaqueira” com Alfredo da Silva; 

 

  • Em 1916, seguindo as pisadas paternas, António de Medeiros e Almeida matricula-se no curso de Medicina (primeiro em Lisboa e depois em Coimbra), porém abandona-o já praticamente concluído. O seu dinamismo e espírito empreendedor herdados do pai, levam-no a optar pelo mundo dos negócios tornando-se, ao longo dos anos, num empresário de sucesso que grangeou grande prestígio em Portugal e no estrangeiro. Este percurso permite-lhe assegurar rendimentos para se dedicar também a outra paixão – a sua colecção;

 

  • A 23 de Junho de 1924 casa-se com Margarida Pinto Basto descendente, por lado materno, dos Condes de Pombeiro e do lado paterno da família propretária da Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre. O casamento realiza-se na capela da casa da noiva, na Rua de São Marçal, nº 3 em Lisboa. Para espanto das famílias, o casal partiu para lua-de-mel num dos carros desportivos do noivo, um Farman Super Sport, modelo Torpedo de 1922, ambos vestidos a rigor;

 

  • A atividade como empresário iniciou-se nos anos 20, com a importação para Portugal da marca inglesa de automóveis  “Morris”, contribuindo para a democratização do uso do automóvel no país.

 

  •   Em 1924 funda a firma de importação, A. M. Almeida Lda., abrindo um stand na Rua da Escola Politécnica, nº 39 em Lisboa. Esta escolha foi um prolongamento da sua paixão pelas corridas de automóveis, nas quais participava desde cedo em circuitos nacionais;

 

  • Também foi pioneiro no campo da aeronáutica comercial, quando em 1934 adquire a maioria do capital da Aero Portuguesa, primeira companhia aérea nacional que realizava voos regulares entre Portugal e Marrocos. Foi também um dos fundadores da SATA e da TAP, tendo sido administrador da IATA International e o primeiro acionista privado da TAP;

 

  • Em paralelo mantinha diversas actividades comerciais nos Açores, onde administrou várias empresas de navegação aérea e marítima, de produção de açúcar e álcool e importação de combustíveis. No início da década de oitenta e já perto dos noventa anos escreveu sobre esta actividade insular “ …seja-me permitido dizer que consegui desenvolver a firma a um expoente tal que cheguei a ser o principal responsável pela administração simultânea de 21 empresas, todas elas dando lucros…”;

 

  • Durante a Guerra tenta obviar as grandes dificuldades que os ingleses tinham em abastecer os aviões aliados no Atlântico Norte, disponibilizando as infra-estruturas que a sua empresa aérea possuía nos Açores, consequência de uma sólida amizade com o Embaixador do Reino Unido em Lisboa, Sir Ronald Campbell (1883-1953), que se manteve até à morte, levando o Rei Jorge VI a agraciá-lo, em Agosto de 1947, com a condecoração O.B.E. “Honorary Officer of The Most Excellent Order of The British Empire”;

 

  • No que respeita à colecção, o casal Medeiros e Almeida começou por comprar objectos para decorar a sua nova residência sita na Rua Mouzinho da Silveira nº6, em Lisboa;

 

  • Com o decorrer das compras e beneficiando de um mercado que no pós-guerra oferecia oportunidades, Medeiros e Almeida torna-se, paralelamente à atividade comercial, um grande coleccionador. Para estar a par do mercado assinava revistas de arte como a Connoisseur, a Apollo ou a Burlington Magazine e recebia os catálogos das mais afamadas leiloeiras, tomando contacto com as peças em oferta. Além disso, vários antiquários e “dealers” de arte enviavam-lhe informações, conhecedores que eram dos seus gostos e do que procurava;
  • Medeiros e Almeida foi assim constituindo um grande espólio e tornando-se um conhecedor, reconhecido no mundo da arte europeu. Quando a importância da peça a licitar assim o obrigava, assistia aos leilões mas a maioria das compras foram feitas através dos seus agentes, tanto nacionais como estrangeiros;

 

  • Em início dos anos 70’s, consciente do grande espólio que tinha reunido e não tendo tido descendência, Medeiros e Almeida procura uma solução que não disperse o espólio, fundando, em 1972, a Fundação Medeiros e Almeida. À Fundação, que tem por objetivo: “a criação de uma Casa-museu”, doa a casa e o seu acervo;

 

  • No intuito de alargar a sua coleção, Medeiros e Almeida manda erigir sobre o jardim da sua casa uma nova ala, obra para a qual contrata o arquiteto Alberto Cruz (1920-1990);

 

  • De modo a possibilitar as obras da Casa-Museu, o casal mudou-se para uma vivenda contígua que adquiriram na Rua Rosa Araújo;

 

  • O benemérito doou ainda à Fundação um lote de terreno na rua Barata Salgueiro e o edifício da rua Rosa Araújo, com a ideia da sua futura rentabilização de modo a garantir a manutenção e funcionamento da instituição;

 

  • Em Junho de 1971 morre Margarida Pinto Basto de Medeiros e Almeida;

 

  • No espaço do jardim da residência, Medeiros e Almeida instalou ambientes reconstituídos como uma Capela para a arte sacra, um ambiente de sala Luís XV (Sala do Piano), outro Luís XIV e duas salas para albergar coleções específicas; a Sala dos Relógios e a Sala da Porcelana da China;

 

  • Em Fevereiro de 1986, aos 90 anos Medeiros e Almeida morre, tendo orientado até à sua morte as obras da futura Casa-Museu;

 

  • Após obras de adaptação do espaço aos ditames da museografia e estabelecido o percurso museológico, a Casa-Museu Medeiros e Almeida abriu ao público em 1 de Junho de 2001, cumprindo-se assim os desígnios do seu fundador.

 

 

Aceda aqui a documentos relativos à vida e obra de Medeiros e Almeida: